segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Equilibristas e equilibrados– y=ax2+bx+c*

A semana passada foi riquíssima em revisitações ao/do passado. Histórias minhas, outras nem tanto. Fabulosas vidas longínquas e tesourinhos deprimentes. O importante é que tudo ficou no seu devido lugar, numa arrumação que nem a minha rica mãezinha consegue cada vez que vem a minha casa.

Gosto de ter tudo bem arrumado e levei muito tempo até hoje poder finalmente descansar e sorrir para o futuro que terei, já que acomodei o devido espaço para que aconteça, libertando o passado e olhando para o presente como uma segunda oportunidade. É bom ter/dar a oportunidade de pagar o bilhete, quanto mais não seja para verificar que é um filme que já não passa nos cinemas.
E também foi por estes dias que me recordei vagamente de um qualquer personagem de uma qualquer série do Herman que dizia algo do tipo “camarada, amigo, palhaço... deste grande circo que é a vida”.
Nunca gostei de circo.
Contou-me o meu pai que, da primeira vez que me levou ao dito, no Coliseu do Porto, ao ver a típica cena do palhaço rico a malhar no palhaço pobre que começa em prantos berrados e fingidos, a minha aflição era tanta, que me levantei e fui à primeira fila gritar-lhe “Não chores, palhacinho!!!”, enquanto me desfiava em lágrimas soluçantes, para desalento do meu pai e dos actores, que não sabiam o que fazer. Moral da história: os palhaços fazem-me chorar.**

Números com animais deixam-me doente. A começar pelo cheiro que algumas feras deitam, que me deixam na dúvida se serão animais já quinados e mal empalhados puxados por umas cordas invisíveis ao estilo das marionetas, ou se os ecologistas para-lá-de-radicais foram todos acabar em artistas de circo, utilizando a água com demasiada parcimónia, deixando os bichões criarem verdadeiros ecossistemas autónomos de outros bichinhos, numa lógica de dúbia simbiose. Aos quinze, novamente no Coliseu do Porto e desta feita desconfortavelmente sentada na primeira fila, um antipático crocodilo vinha na minha direcção, de boquinha aberta (coitadinho do crocodilo...). Não fosse o meu poderoso grito e o domador não teria chegado a tempo de apanhar a lagartixa. Claro que, a essa altura, já eu estava agarrada ao gay sentado ao meu lado. Mas acho que o namorado não levou a mal... concluindo: feras e domadores... hum, não me cheira... melhor dizendo: não inspira confiança (eh pá, que belo trocadilho! Ando cada vez mais subtil!).

Não vou à bola com os contorcionistas pelo simples facto de ter uma valente dor de cotovelo daquela gente que, desconfio, até consegue chegar lá com a língua (pequena pausa para tentarem chegar com a língua ao cotovelo. Não conseguiram, pois não? Vou continuar, então...).

Mas, para mim, os equilibristas são os piores. É evidente a necessidade de atenção por parte desta classe. Encontram-se lá no alto, a dar uma de inatingíveis. Uma voz forte e autoritária desaconselha-nos a repetir os passos em casa, enquanto estas personagens, lá de cima, dão-se ares de “levo muitos anos disto, estou muito à frente”. Adoram o poder que sentem por verem todo um público suspenso nos seus passinhos por demais estudados, num truque que – espante-se! – não tem nada de novo desde... sei lá! Quer dizer, há uma corda mais ou menos bamba para ser atravessada. O “verdadeiro artista” trata de fazer render o peixe (antes de ser dado às focas que entram no número seguinte) andando para a frente e para trás, sem grandes variações (quer dizer, o caminho é só um... acho!), alternando entre a vara e o monociclo... provando que, afinal, o estar muito à frente, é andar para trás e para diante na cordinha, numa lógica de “não caga nem sai da moita”.

E o mais engraçado é que, se fossem simplesmente gente equilibrada... não precisariam de nada disso! Olhavam em frente, atravessavam sem grandes delongas, se caíssem... pois, é mais o ego que dói... olha, caíam... e até poderiam aproveitar melhor o tempo para treinar truques com os malabaristas e com os ilusionistas, que sempre têm o dom de encantar, roubar sorrisos e conceder momentos simples de felicidade... ou até momentos mais caros, mas pronto, isso sou eu que aprecio um pôr-de-sol à janela do emprego tanto quanto um prato que envolva trufas na sua confecção, em restaurante chique, desde que não seja o Eleven... fiquei sem perceber que raio de encanto tem aquele estaminé, mas enfim, pelo menos diverti-me como nos velhos tempos!


* OK, OK, é uma parábola, na sua definição sintética. Tenho de perder a mania de instruir o pessoal. Nem sequer fui para professora...
** Acho que é um pouco por isso que não curto McDonalds... aquele Ronald causa-me arrepios...

2 comentários:

Diabba disse...

Fui ao circo uma vez, detestei tudo!

Verifico no entanto que vivo num circo cheio de palhaços, ilusionistas, equilibristas e malabaristas! Grunffff

Um dia destes acabo com a festa aí em cima! grrrrr

enxofre

Actriz Principal disse...

Diabba, filha, em alturas de maiores apertos, tu até conseguirias facilmente entrar num número em que cuspisses fogo!
:-*